O que é? O que
é?
Diga seu nome e ele
desaparece.
O que é? O que
é?
Ouça. Pode ouvir o
mundo suspirar? Não, não quando os gritos e sirenes disputam
ouvidos e enchem o dia de vibrações discordantes. Ouça. Se
conseguir por um breve momento, ouça.
O Silêncio, ele tem
voz própria.
Não se vê um rosto
por onde se ouve esta voz.
O mundo está
concentrado no ritmo do maquinário, dos mecanismos que o movem, nos
assuntos que não envolvem quem procura encontrar o silêncio, que,
silencioso, ninguém sabe ouvir.
E os rostos que
encontramos e vemos por entre as nuvens de fumaça, estes rostos
flutuam apressados. A caminho de seus destinos definidos, porém
incertos.
O silêncio está em
todos os lugares, mas é somente à noite que ele sai para brincar,
encontrando quase ninguém. Ninguém ouve seu chamado. Todos dormem e
se entregam dos sonhos intranquilos, ruidosos, nebulosos e envoltos
em estática. Nem nos sonhos o silêncio é convidado.
Ouça. Consegue
ouvir? Sim, há uma voz por aí, por aqui, lá, mas ninguém escuta.
O silêncio incomoda. Não gostam de ficar a sós com os próprios
pensamentos.
Falam, e gritam, e
cantam, e rangem os dentes, tudo para não ficarem em silêncio.
Mesmo na quietude da
noite mais vazia, a voz soa entre as paredes, árvores e trilhas de
concreto. Cantarola no soprar dos ventos, no farfalhar das folhas de
outono e no cair das lágrimas de quem chora em segredo. No desespero
dos andarilhos solitários, nos pés que se arrastam sobre o mundo e
por ele vagam.
Preenchem o silêncio
e manifestam tudo o que ele tem a dizer, mas não conseguem ouvir.
Ouça o silêncio,
que acaricia a pele do rosto quando você o aceita de graça, que o
estapeia quando você o rejeita ao rejeitar a si mesmo, fugindo e
correndo em direção ao barulho produzido pelo desespero. Ouça o
que ele tem a dizer.
Sinta sua presença.
O que ele é para
você?
Amigo ou inimigo?
O silêncio oprime.
O silêncio toca.
O silêncio abraça.
O silêncio
esfaqueia.
O silêncio existe,
mas não querem que você acredite.
O silêncio não é
violento, nem invade casas e ouvidos, não arromba portas nem quebra
vidros, mas espera.
Ouça.
Não tenha medo de
não vê-lo, de não encontrar quem dê rosto ao silêncio que se
ouve na proteção de suas paredes. Ouça a voz que não aparece,
entre os espaços que nem sempre precisam ser preenchidos. Não
necessariamente.
Ouça.
Não ouve.
Nada ouve.
Mas não quer dizer
que não está por aí.
Você ainda pode
sentir a vibração de sua voz entre as notas musicais que soam no
cotidiano de um mundo ordinário.
O que é? O que
é?
Diga seu nome e ele
desaparece.
O que é? O que
é?
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