terça-feira, 21 de junho de 2016

35. Querido Anônimo,


Eu não conheço você, mas gostaria.
Sei que também sou um anônimo sem importância, apenas mais um rosto desfocado e perdido na multidão de estranhos a enfrentar o mesmo mundo rude e cruel por onde seus pés se apressam, por mais que tente disfarçar a pressa com esses seus movimentos delicados de quem não se preocupa ou pouco se importa.
Mas eu sei...
Penso saber algo a respeito da lágrima não manifestada em rostos serenos. Eu sei que não conheço você, mas gostaria.
No assento ao lado, no ônibus e no metrô, nas filas, na mesa ao lado, no corredor do museu... Quase todos os dias eu vejo rostos que em alguns minutos eu esquecerei, assim como certamente serei esquecido. Quem sou eu para ter a pretensão de ser lembrado?
Então, quando menos espero, alguém que não conheço atrai minha atenção. Quando menos espero, um efeito hipnótico exerce uma forte influência sobre o meu ser, e eu me vejo olhando para um estranho e querendo saber mais, bem mais do que verei naqueles poucos minutos de convivência.
Pode ser homem, pode ser mulher. Basta estar ali, sendo um ser humano, vivo e respirando. Um santuário de sonhos, um poço de frustrações. Ninguém assim tão diferente de mim, mas não exatamente igual, também.
Eu não consigo explicar esta sensação, mas vem acompanhada pela vontade de saber mais e de me importar.
Você não me conhece e pode até não perceber, mas estou te vendo. Eu te enxergo. Não é tão invisível quanto pensa.
Gostaria de vê-lo ou de vê-la mesmo depois de ter pedido a conta, mesmo depois de ter pedido para descer e seguir com a sua vida, enquanto eu sigo com a minha e vejo você sumir de vista.
Parece loucura, eu sei, mas você não sabe como mudou a minha vida, pelo menos por hoje. Como, com seu sorriso ou simples presença, fez o meu dia melhor. Eu também não sei dizer o que acontece, mas devo isso a você, querido anônimo.
Quais são os seus sonhos?
Conte-me, se tiver vontade ou um mínimo de coragem, tudo o que sempre quis que alguém soubesse. Ria comigo. Chore em meu ombro, se for preciso. Sua história irá morrer comigo.
Quem você conhece nunca conhece você.
Enquanto nos atrasamos para os nossos compromissos, meu eterno amigo de cinco minutos, tenho medo de que sinta seu mundo sendo invadido pela minha curiosidade silenciosa. Então não abro a boca, apenas sinto sua presença e espero que tal sensação me acompanhe um pouco mais. Sinto em você uma pessoa que valeria a pena conhecer, se as circunstâncias fossem mais favoráveis.
Eu não conheço você, mas gostaria que ficasse mais um pouco.
Eu gostaria de ficar, mas tenho que seguir em frente.
Bom, foi bom enquanto durou.
Sendo assim...
Adeus. Que você tenha uma boa vida.


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