terça-feira, 14 de julho de 2015

26. Estátua de Sal

“Ouça-me com atenção, e não olhe para trás
                                  – nem agora nem nunca mais!
Sou aquele que não deve ser encarado nos olhos,
                                  feitos de morte.
E se por alguma razão esqueceu a cor de meus olhos,
                                  por favor, nunca mais volte!
Pois,
          com meu olhar,
                                             seus amargos pesadelos posso
                                                                                                      (de novo) 
acordar.”

– O Passado.





Quem fomos, quem somos, quem poderemos ser...
Bem sabemos que uma coisa leva à outra, como uma progressão, uma questão de causa e efeito, o que me leva a pensar no passado como um agente condutor – direto ou indireto – dos rumos que seguimos. Ou pelo menos como um fator que causa uma influência mínima em tudo isso.
O passado costuma nos lembrar de quem deixamos de ser ao seguirmos com o processo natural de transformação; isto é, se lembrarmos de aprender com ele, o passado, sem antes acusá-lo de ter provocado nossas misérias.
Eu mesmo tenho o hábito de consultar meu passado para tentar entender como foi que vim parar aqui. Penso que, em algum ponto específico no tempo, algum evento veio a ser a causa de tudo o que aconteceu depois. Mas não apenas reflito e em silêncio rumino sobre essas coisas sem nem ao menos tentar fazer algo a respeito, apesar de (eu confesso!) ter agido assim algumas vezes. Na verdade, eu gosto de observar meu passado para tentar descobrir ou redescobrir tudo o que ficou mal resolvido, e assim busco meios para tentar fechar as pontas soltas. É como ser o meu próprio terapeuta, em busca do meu próprio equilíbrio.
Sinto que as pessoas, por outro lado, tentam fugir disso. Elas seguem em frente e não arriscam olhar para trás. É até compreensível, considerando o quão doloroso aquele passado deve ter sido para quem o experimentou, considerando que todos nós colecionamos inúmeros fantasmas.
Mas isso tem um preço.
Por temerem olhar nos olhos de seus respectivos passados, as pessoas vivem eternamente assombradas por fantasmas, e perdem o sono, e são eternamente atormentadas por pesadelos e até por pensamentos destrutivos de estimação que nunca vão embora, não sem antes receberem uma ordem expressa de seus donos.
Pois de nada adianta tentarem ignorar a existência de todas essas coisas.
Eu não sei.
Tenho a impressão de que as pessoas temem olhar para trás porque temem que tal visão possa paralisá-las e prendê-las num eterno estado de inércia, enquanto o passado se aproxima e derruba tudo o que estiver pela frente, incluindo elas. Por esse motivo, vivem correndo.




“E ao revisitar páginas viradas
              de histórias que nunca foram,
         de fato,
         superadas,
         em meus olhos pode encontrar um mal
         com o poder de convertê-lo numa estátua de sal.”

– Também de autoria do Passado.


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2 comentários: