quarta-feira, 13 de maio de 2015

23. Não Há Vagas


Os rumores dizem que os jovens têm todo o mundo pela frente para ser conquistado por toda a energia e a vontade que possuem em mãos, mas nada dizem sobre toda a sorte de dificuldades que teriam de enfrentar quando chegasse o momento. Para muitas coisas, somos muito jovens; e depois, quando a idade supostamente abriria todas as portas para a vida adulta e suas infinitas possibilidades, nós ainda somos jovens e devemos tomar o último lugar na longa fila das oportunidades, uma fila encabeçada por pessoas supostamente mais experientes.

A juventude nada é além de uma eterna, insuportável espera.

Eu, é claro, sou jovem demais para pensar de maneira tão radical. O que este garoto aqui sabe a respeito das coisas da vida? “Ele é jovem demais até para entender sobre a juventude, e ignora a bênção de ainda não ter de se preocupar com as máculas da maturidade. Ele tem apenas vinte e cinco anos. Ele tem apenas vinte e oito. Tem apenas trinta anos e não sabe que até então tem vivido os seus melhores anos.” Os mais experientes fazem tudo parecer tão mais simples!

Mas a realidade... Esta é um tanto diferente.

Para o jovem, a vida é como uma festa para a qual ele nunca é convidado. Ele mesmo se convida e a invade. E quando não é dos mais tímidos e não se envergonha de sua atitude, ele surge numa entrada triunfal e é quem torna a festa um pouco mais agitada. E barulhenta.

O jovem é um penetra na festa dos veteranos. E como isso incomoda!

E talvez por isso, em algum momento o jovem é finalmente barrado ao tentar seguir com mais um de seus muitos impulsos.

Não quero necessariamente dizer com isso que os mais experientes necessariamente se incomodam com a possibilidade de serem vistos como obsoletos aos olhos do mundo, para serem, então, substituídos por esses jovens desmiolados que não têm metade da bagagem de vida que os mais experientes já tinham quando se encontravam na mesma idade que eles, apesar de ser o grande temor de uns e outros.

Mas eu imagino que desde a segunda geração de seres humanos, os conflitos entre as gerações foram criados, e isto tem se repetido através das eras. Tornou-se uma tradição – e como uma boa tradição, um bom e velho discurso foi sendo (incansavelmente) repetido: neste caso, de que tudo era melhor em sua época se comparado com a época da geração seguinte, o mesmo discurso que provavelmente ouviu da boca de seus pais, que ouviram dos pais deles... E assim voltamos ao início dos tempos.

(Como comentário pessoal, eu também penso que a geração anterior à minha teve uma melhor experiência de vida, mas a minha geração continua a ser melhor que a geração seguinte; a minha geração ainda tinha uns bons resquícios daquela vida um pouco mais lúdica de tempos anteriores.)

Pensando melhor, certas virtudes, defeitos e angústias semelhantes sempre assombraram os mais jovens desde o início. Em algumas coisas, as gerações não são assim tão diferentes.

Todos – ou quase todos – já provaram o sabor amargo daquela sensação de viver em uma outra dimensão, e tudo o que fosse mais interessante parecia acontecer ou existir em um lugar muito distante, no outro lado da cidade ou mesmo no bairro ao lado. Para muitos, cruzar certas fronteiras não era permitido, a menos que os próprios pais fizessem companhia. E até certa idade, alguns não tinham o direito de aprender a conhecer o que havia além de seu próprio quintal – o que é muito natural sob o ponto de vista de quem tem o dever de cuidar e proteger, mas sufoca aqueles que desejam desbravar os diversos campos e territórios da vida.

E esses jovens herdam os medos e anseios de seus pais, e os repetem com seus filhos.

E aquele que tenta fugir disso (automaticamente) se torna a grande ovelha negra da família.

E aquele que tenta fugir de todo o resto – de medos e anseios familiares, de valores e de tabus sociais duvidosos ou batidos... esse, então, é um grande desordeiro.

Mas o jovem que tenta fugir de tudo o que caracteriza o jovem típico não é bem vindo ao clube, nem dos jovens... nem dos adultos. Sim, a juventude é um tipo de limbo, e os jovens são seres que se sentem (eternamente e eternamente e eternamente e...) deslocados no tempo e no espaço.

Mesmo quando tem o desejo de ser diferente, o jovem não faz parte do clube dos originais com essa sua intenção. Todos querem ter um lugar no mundo para chamar de seu. E esse desejo nunca morre...

Nunca.

Nem com os cabelos brancos.


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