Perdoe-me por quebrar tuas ingênuas expectativas e por
cuspir em quase tudo o que aprendeu desde os teus primeiros dias, mas
o meu dever nunca foi o de acariciar a tua cabeça preenchida de
velhas caraminholas.
Tenho comigo as mil vozes geladas de antigos fantasmas;
e às vezes, das profundezas de meu peito essas vozes sobem à minha
boca e sussurram em teus ouvidos, enquanto apoio a minha mão pesada
em teu ombro, tal como faz um encosto que não pode ser para sempre
ignorado.
Perdoe-me, mas esses fantasmas existem.
Perdoe-me, mas existo.
Aliás, para dizer a verdade, realmente não vejo como
necessário o teu perdão, tampouco clamei por isso. Mas não pense
que o culpo por tudo, apesar de ser tua – e somente tua – a
grande decisão de enxergar a nossa existência como o fim gentil de
um longo sono repleto de sonhos confusos. Ou de senti-la como um
forte murro na boca do estômago... assim, recebido de surpresa.
Faça sua escolha.
São fúteis as tentativas de me varrer para debaixo do
tapete, como se isso fosse me fazer desaparecer ao ser esquecido, do
mesmo modo que a poeira nunca desaparece de vez. Sim, talvez suma por
algum tempo, muito brevemente, mas logo sou apontado e mencionado de
novo por alguém conhecido ou em conversas aleatórias entre
desconhecidos nas filas. Nem sempre soo lisonjeiro nos lábios
alheios, mas nos dias de hoje isso é um pouco diferente, e,
dependendo do caso, às vezes divido opiniões: uns me abominam e
outros me defendem, enquanto outros tantos ainda ficam em cima do
muro.
Sou muito associado a polêmicas de todos os tipos e
naturezas. Pouco ou nada se conclui, mas ainda sou um objeto
controverso de discussões nem sempre acaloradas, surgindo muito nas
trocas de olhares constrangidos e nas entrelinhas.
Meus mil nomes são sussurrados.
Falam baixo como se falassem de segredos sujos.
Sou o inominável.
É verdade, nem todos os fantasmas são agradáveis.
Muitos são realmente perturbadores, e quase que por unanimidade
alteram as moléculas de quem ouve seus nomes, então desestabilizam
a esse ouvinte hipotético e alteram o seu estado de espírito, seja
por indignação ou por uma culpa não confessada. De qualquer modo,
não deveriam agir como se esses fantasmas não existissem, mas
aconselho a falarem mais a respeito. Seria um grande erro me
silenciar quando atendo pelo nome de um desses fantasmas,
principalmente quando isso significa a diferença entre a justiça e
o efeito da omissão de quem finge não ver e de quem parece não se
importar.
Mas na maioria das vezes, a mim são atribuídas tolices
ancestrais ou fantasmas que não mais deveriam ser fantasmas,
incômodos que doem apenas nos ombros e nas costas de incomodados sem
causa, de controladores da liberdade alheia. São indivíduos com
causas perdidas, mas ainda não sabem ou não querem admitir a
derrota.
Pensam em mim como um princípio de moral e decência,
como um velho discurso de tradições a serem mantidas, um
acalentador dos supersticiosos, uma muleta para os ignorantes.
Sou conveniente para muita gente. Muitos prosperam e
assumem uma soberania baseada em ideias que consideram intocáveis,
enquanto outros tantos acreditam neles e sustentam tais ideias por
viverem no medo. Nenhum problema com isso, é claro...
Pelo menos até o dia em que o homem vê os estilhaços
de seu próprio teto de vidro.
Vemos, então, a queda de muitos homens, grandes e
pequenos, quando eles veem suas convicções sendo implacavelmente
esmagadas. Mas ao invés de aprenderem com isso, muitos se perguntam
onde erraram antes mesmo de tentarem encontrar a si mesmos.
E assim, o mundo continua girando na submissão aos
indivíduos de mente fechada.
Isso é o que acontece por esquecerem de fazer uma coisa
não muito simples, mas possível; um mal necessário que significa a
diferença entre a liberdade e a continuidade da tradição de me
verem como uma sombra que paira sobre o homem:
Estou aqui para ser quebrado.
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