Nascer enquanto outros tantos querem morrer, respirar,
aprender a se comunicar, alimentar-se bem, dormir à noite, não
dormir quando o luar banhar de luz a outras tantas possibilidades
ocultas, sonhar e lembrar-se dos sonhos, dormir para retomar os
sonhos inacabados, amar e ser correspondido à altura ou além, odiar
e amar odiar, não ser abandonado, sempre ter companhia, querer viver
solitário, fazer o bem a todo custo – mesmo quando a bondade
significa um mal inconveniente para os demais, mesmo dispondo das
ferramentas e dos motivos errados para construção do bem, quando a
bondade é egoisticamente conveniente –, a sede de justiça, de
fazer jus às expectativas, as boas e as más, não ser feito de
bobo, nem sofrer com a zombaria dos tolos, a obsessão pela simetria,
por seguir os padrões, seguir a moda, querer ser
diferente, ou bizarro, aquilo que chamam de anormal, se fazer de
medíocre para ser visto como um fantasma, um ser invisível, gritar
e querer aparecer demais, querer ter razão, ter o controle de tudo
em suas mãos, perder o rumo e a direção como quem diz “nada mais
tenho a perder e nada mais poderão esperar ou cobrar de mim” e
ainda não querer se decepcionar, preencher as lacunas, os espaços
vazios, o silêncio, encontrar um espaço que ainda esteja vazio, ter
algo mais a declarar, o direito libertino de ter a liberdade de
expressão, querer rimas nas canções quando tudo o mais ao redor já
parece desafinado e destoante, rimar amor e dor, felicidade e
maldade, voltar no tempo, avançar no tempo, tentar não repetir os
mesmos erros, corrigir os erros alheios – o costume dos santos
pecadores! –, apontar a hipocrisia dos outros, querer ignorar a sua
própria condição de humano, voar acima das nuvens e alçar voos
ainda maiores, ter uma base, um solo próprio, casar-se, ter filhos,
cumprir missões sociais, trabalho, mais trabalho, horário extra,
querer ser alguém na vida, seja lá o que isso queira dizer, ter
muito dinheiro e pouco proveito, fugir das responsabilidades básicas,
tanto das implícitas e lógicas quanto daquelas outras que alguma
invisível entidade humana certa vez disse que você deveria ter, e
não podemos nos esquecer da pressa, da vontade de querer terminar
tudo tão depressa, incluindo a leitura de um livro ou de um longo
texto, se considerar a velocidade atual das informações, pular
momentos e trechos ou desistir no caminho, e depois querer saber como
tudo terminaria, não querer que algo o interrompa antes de se sentir
satisfeito, recompensado, ver o fim dos conflitos, o medo de morrer,
que é tão forte quanto o medo de viver infeliz, agarrar-se à
sanidade, não querer ajuda, agarrar-se à saúde, e não adoecer,
almejar a cura... Querer, então, morrer e descansar enquanto outros
querem nascer, quando tantos outros nem
mesmo isso conseguem, não querer morrer sozinho, morrer e libertar-se da prisão do corpo e da mente, transcender,
descansar, calar de vez a voz dos pensamentos, querer fugir do tumulto, dos
pensamentos congestionados, fugir das angústias, querer que tudo se
conecte e faça sentido, que seja resumido, explicado, e que o universo seja
finito, que o mundo se cale e morra com você, buscar, buscar e
buscar, não esperando ser impedido por uma interrupção abrupta,
querer encontrar uma resposta para tudo, para a vida e a morte, para
o agora e o nunca, revisitar o passado, esquecer de viver o presente
e temer o futuro, e então, novamente, querer ter o controle de tudo,
além da obsessão pelo fim das obsessões, que desregulam o ritmo da
vida e distorcem as percepções, e nos tornam obcecados pelo fim da
obsessão através de nossos esforços solitários, lutar para dar um fim às
intermináveis obsessões – e elas não param mais, mas se proliferam!
–, querer sempre ganhar de tudo e de todos, vencer toda a loucura do cotidiano,
o desejo perpétuo de ser aquele que é eleito a dar o ponto final
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