Sempre
quando fecho meus olhos e o manto da escuridão me cobre e
aparentemente me protege por completo, eu me pergunto: Onde está
você, que prometeu que estaria sempre por perto para vigiar-me em
meu sono perturbado por sombras e fantasmas?
Você,
é claro, não responde. Porque você não está aqui, nem está lá
para me ouvir.
Depois
de tanto tempo, a tua falta de presença nunca esteve tão presente.
Lembro-me de como costumava rir, de todas as suas broncas, de suas
canções. Posso até mesmo ver os movimentos de suas mãos hábeis
nas teclas de um piano, mas nenhum som é produzido, não mais.
Lembro-me de seu sorriso literalmente amarelo de café e nicotina,
embora sincero, de quando eu me sentei para ouvir uma de nossas
canções.
Lembro-me
de como prometi a mim mesmo que me posicionaria como um vigilante em
seu sono repleto de dores físicas e de muito frio, que apenas o
calor do meu corpo ou de muita bebida destilada poderiam aliviar.
Éramos
duas estrelas ou dois universos distantes, vivendo vidas distintas,
longe demais para que um pudesse proteger ao outro, mas não tão
distantes um do outro quanto agora.
Posso
chorar, gritar, espernear, destruir minha garganta. E ainda assim,
sei que você não irá me ouvir.
Posso
clamar: Me salve!
Sei
que suas mãos pequenas nunca mais me erguerão do solo e tirarão
meu rosto da poeira, sei que não mais enxugarão minhas lágrimas,
nem os seus braços me cobrirão – quando na verdade, era eu quem
costumava cobrir seu corpo frágil em um abraço que poderia durar
duas eternidades e mais um pouco.
Lembro
de como costumava dizer o meu nome em sussurros, e isso me arrepia
ainda hoje. Costumava pensar que somente você seria capaz de
entender o que havia na essência do portador deste nome e que
somente eu poderia compreender que por baixo de suas vestes negras –
das cores do luto – ainda havia um coração pulsando violentamente
a favor de uma vida pela qual lutávamos. Havia em você uma vontade
de me fazer feliz mesmo com os gestos mais simples, mesmo que isso
significasse, às vezes, me deixar zangado por alguns de seus mais
impulsivos gestos.
Mais
importante, amava lutar com você ao meu lado.
E
hoje, um ano, décadas e mais alguns dias depois de a vida ter fugido
para fora de seu corpo, lamento tanto que tenha desistido de lutar
mesmo antes disso. Você desistiu de lutar para que eu lutasse por
mim. Mas sinto informar: não tem funcionado. Tudo o que você me
deixou foi um enorme buraco em meu peito, lágrimas e noites mal
dormidas.
Eu
era uma criança com medo, foi o que você me disse, mas agora o
mundo recebe um homem.
Realmente
disse a verdade? Apenas o tempo é capaz de me responder a essa
questão.
Se
eu gritar agora, sei que você não irá me ouvir. Seria como gritar
a um gigante de bronze, sem vida nem consciência.
Sem
presença.
E meu
silêncio é tudo o que lhe devo agora.
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Excelente texto, muito bom para reflexão.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Este texto veio de momentos de muito significado emocional para mim. Tive de começar por ele.
ExcluirVolte sempre!
Vc sempre escrevendo muito bem ! Há momentos em que o texto é muito poético,sem versos e rimas mas, ainda assim, repleto das sonoridades e ritmos da poesia. E o sentimento de tristeza é avassalador !
ResponderExcluirGrato, Paulo! Aqui vai minha nova página no Face: https://www.facebook.com/rodrigorufinowhitebox/
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