Sim,
eu ainda gosto de ser jovem.
Contudo,
sinto uma poderosa maldição tomando a minha juventude dia após
dia, que é a sensação de ter chegado tarde demais. Cheguei tarde
para muitas coisas.
Não
falo somente a respeito de tendências culturais, mas da experiência
de vida em sua amplitude, assim como é inevitável a falta sentida
de amores que eu poderia ter vivido no frescor de suas existências.
Socialmente,
eu me deparo com uma era doente de pura apatia, mesmo com a ilusão
provocada pelo som e pela fúria atravessando paredes, mas sem
objetivo. E tudo o que resta são meros latidos de pequenos cães
atrás de um portão. Entendam, a fúria é latente, mas precisa ser
bem canalizada. Bem utilizada.
Esses
dias alguém me disse que apesar de muito jovem, sou uma alma antiga.
Certamente insere-se aí a perspectiva espírita, que, se não sou
adepto, no mínimo respeito ao acrescentar algo a mais nesta vasta
pluralidade de visões existentes. E eu acredito que seja possível,
mesmo que de uma maneira figurativa.
Sou
jovem e da velha guarda. Sou um remanescente espiritual de qualquer
tempo esquecido. Não fecho os meus olhos para o futuro, não sou
contra o que se entende como progresso, mas sinto que conforme
desenvolvemos mais e mais ferramentas e facilidades para a vida
cotidiana, mais e mais perdemos a nossa identidade, e parece que cada vez menos temos algo de relevante a dizer ou sentir. Nem todos são assim, é claro. Ainda
conseguimos encontrar pessoas que sabem se reconhecer como grãos de
areia no tempo, reconhecendo que muitas coisas vieram antes e outras
ainda virão, e que por isso mesmo precisam se preocupar em deixar a
sua marca.
Sinto-me
não sendo levado a sério, mesmo que isso fuja às intenções
alheias.
Mas
principalmente sinto a minha alma antiga transitando constantemente
para além do espaço-tempo, revisitando o que queria ter
experimentado em carne e osso, e talvez tornando-me à frente do meu tempo, à época, sem perceber. Hoje sou a cópia da cópia da cópia (e não somos todos?), ainda que tentando soar diferente.
Mas
agora estamos todos dopados. O mundo não é perfeito e ainda há
muito a ser feito por ele, é verdade, mas foi muito simplificado.
Então tornamo-nos dementes. O progresso é lucrativo e, mesmo não
sendo um demônio em si, é um meio utilizado para o aprisionamento
massivo de nossa fúria interna, de nossa vontade de viver e quebrar
barreiras não visíveis a olho nu. Estamos aprisionados em uma
grande zona de conforto. O progresso em si não é um pecado, nem
fazer uso dele o é, mas estamos equivocados ao pensarmos que nada
mais precisamos fazer.
Ainda há muito a ser dito, mas estamos cegos, surdos e mudos. Somos almas perdidas no campo de batalha dos dias atuais, no qual somos bombardeados pela apatia uns dos outros. Ou pela fúria cega de um irmão contra o outro.
Nossa guerra mais importante hoje é espiritual.
Não
em um sentido religioso, mas ainda mais amplo. Em quebrarmos a
barreira das paredes de nossa mente com a ajuda de nossa fúria
interna. Em libertarmos o nossa alma de nossas mais vulgares
convicções, daquilo que fecha as portas e janelas da percepção e
corta as nossas asas invisíveis. E nem são necessárias as
armas físicas para sermos domados e domesticados. Basta apenas essa
ilusão de espaço-tempo e de que nada pode ser diferente. Da ilusão
que estamos presos em nosso tempo e que devemos nos afundar na mais
profunda apatia porque é tudo o que temos.
Deve
ser por isso mesmo que sempre tento voar com a minha alma antiga por
onde (e quando) mais desejo. Não sem perder o senso de realidade,
mas o ampliando. Daí o motivo de escutar músicas antigas, e ouvir, fascinado, histórias de muito antes de meu tempo, para suspirar de saudade de tudo de bom que eu não vivi. Será que um dia eu ainda terei os meus anos dourados?
É
como eu sempre digo: simplesmente não tenho culpa de ter nascido
tarde.
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